segunda-feira, 21 de junho de 2010

FUTEBOL, GUARANÁ E PROVAS

1º EPISÓDIO: FUTEBOL, GUARANÁ E PROVAS

A sabedoria dos ditos populares é enorme. Pena que não nos atentemos a esta riqueza. O povo diz:”Lembrar o passado é viver duas vezes”. E também fala-se que “a voz do povo é a voz de Deus”. Deus é altamente democrático. Mas eu vou logo ao assunto.

Lembranças...Play...Filmes na mente. Basta os amigos mais íntimos se reunirem e automaticamente temos um tempo de nostalgia no ar....Sou nostálgico de carteirinha. Lembro de muitos detalhes de minha infância. Pena que fora da escola.

E aquela pelada de 18 anos atrás. Idos 1991/92. O Eric tem más lembranças. Vinha correndo sozinho pela lateral esquerda no nosso campinho de várzea. O goleiro desesperado tinha ido para área adversária tentar cabecear a bola do escanteio para o gol. Não deu outra, contra ataque rápido. Eric que não era muito veloz recebeu a bola na esquerda e vinha displicente para fazer o gol. Este já era 90% certo. Eu apostaria minha vida naquele gol, ainda bem que não apostei. O Marcus correu e conseguiu o alcançar. Na disputa Eric teve de passar por cima da caixa de esgoto. SUMIU. Voltou todo preto. E eu me embolava rindo. O sorriso daquela época era mais fácil. No presente, basta falar em Eric e Play! O filme retorna a mente. O riso escapole. Impossível segurar.

Meu pai era freqüentador assíduo da barraquinha azul, do outro lado da rua, bem em frente ao prédio que morava. Ele tomava uma cervejinha. Eu não me importava muito, mas me aproveitava.

A pelada era de lei. Nessa época estudava no “Colégio Nota Dez”. Ele mesmo. Colégio Marízia Maior. Passei uns dez anos por lá. O ônibus pegava e deixava em casa. Em época de aula, chegava no fim da tarde. O sol se pondo. E a pelada estava no seu auge. Eu nem em casa ia, tirava o sapato. Aí que chulé. As meias passavam longe dos meus pés. Com a camisa branca e o short vermelho ficava esperando minha vez. Quando entrava, magrinho mas habilidoso, era gol na certa. Gostava de chutar a bola para bater no poste, que era feito de trave e entrar. Gol! Aquele era nossa Fonte Nova. Subia nas grades do prédio e fingia estar de fronte a torcida na arquibancada. Que emoção! Que vibração! Acho que jogar futebol era uma das poucas coisas que eu fazia muito bem. Mas logo Piii....Piii. Era noite o juiz apitava fim de jogo.

Mas quando meu pai estava na barraca do “Bareta” não era hora de ir pra casa. Íamos até a barraca e tinha certa uma rodada de refrigerante para eu e alguns dos meus colegas. Não demorava muito e meu pai me clamava. Rafa, vai lá em casa e pega suas provas. Eu magrinho, olhava para os dois lados da pista. Não vinha carro. Passava correndo e assim continuava até chegar em casa. Subia as escadas, minha mãe mal pensava em abrir a porta e me picava parecendo uma bala pela greta mesmo. Mas menino, tenha calma! Catava as provas. Eram duas, uma de Estudos Sociais e outra de Matemática. Do jeito que entrava, saia. Parecia uma bala. Pequena mas veloz. Só parava quando chegava hora de atravessar a rua, olhava para os dois lados da pista...

Chegava na barraca e entregava as provas para meu pai. Ele orgulhoso, mostrava aos amigos. Estudos Sociais, nota 8,5. E lá no meio de uma pergunta uma resposta inusitada. “O Brasil está ruim porque os políticos são ladrões”. Acho que estava tentando falar do movimento de impeachment do presidente Collor. Uma percepção difusa que provavelmente tem ligação com o momento histórico que passávamos. A resposta, acho que não tinha ligação com o assunto da prova, mas escapuliu. E estava lá escrito. Meu pai, petista roxo, adorava. Me exaltava, pai coruja...Eu orgulhoso! Logo surgia uma segunda rodada de refrigerante.

Menos orgulhoso ele mostrava a prova de matemática. Nota máxima. Dez na cabeça. Na verdade deveria ser dízima periódica, 9,999... Errei um pequeno detalhe. Não lembro qual. Mas a professora vendo aquilo, não tinha como não colocar 10. Parabéns ao lado da nota. Incrível que eu gostava mais da prova de Matemática, apesar de meu pai ser mais orgulhoso da de estudos sociais, pela visão politicamente correta expressada. Meu pai até uns anos atrás guardava esta prova, mas ela se perdeu no meio de duas mudanças. Seria ótimo ver estas provas e colocar aqui exatamente como foi. Essa foi a primeira experiência com a Matemática que lembro. Não sei se por isso, acabei virando professor de matemática, mas poderia ser de estudos sociais.



2 comentários:

  1. Querido amigo Rafael,
    Já disse isso antes, mas volto a repetir: você escreve muito bem!!!
    Uma escrita simples e fácil de ser lida.
    Continue a história...
    Estou ansioso pelo episódio 2. rsrs
    Abraços!

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  2. Os outros episódios ficaram menos interessantes. Mas vão ser postados em breve!

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